
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
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Análise das mudanças socioeconômicas, sexuais e demográficas em três décadas de assistência pré-natal multidisciplinar a gestantes adolescentes no HC-FMUSP
AUTOR
Marco Aurélio Knippel Galletta
CO-AUTORES
Adriana Lippi Waissman, Rossana Pulcineli Vieira Francisco
CONTEÚDO
1 Disciplina de Obstetrícia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e 2 Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da FMUSP
Objetivo: Descrever a mudança do perfil socioeconômico, sexual e demográfico de gestantes adolescentes no Brasil nas últimas décadas.
Métodos: Realizou-se um estudo transversal aninhado a coorte retrospectiva, no Setor de Gravidez na Adolescência da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em que foram conferidos cortes transversais de dados socioeconômicos, sexuais e demográficos, comparando três décadas sucessivas: primeira década (1994-1999), segunda década (2000-2009) e terceira década (2010-2019). A análise estatística foi realizada através de Qui-Quadrado com correção de Pearson e associação de tendência linear. A comparação das variáveis numéricas contínuas entre as três décadas foi realizada através do teste paramétrico ANOVA ou do teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis.
Resultados: Obtiveram-se os dados de 2.376 gestantes adolescentes acompanhadas em pré-natal multidisciplinar, no período entre novembro de 1994 e novembro de 2019. Notou-se uma mudança significativa no perfil das pacientes no decorrer desses 25 anos, com proporção cada vez maior de adolescentes mais jovens, não-brancas, solteiras, sem religião, nascidas no estado de São Paulo, com maior escolaridade, maior atividade laboral e menor renda familiar corrigida pelo IPCA ou por salários-mínimos. Houve maior dependência da família de origem, apesar da maior frequência de pais separados. A sexualidade das pacientes se mostrou mais desenvolvida, com menor idade de início de vida sexual, maior tempo de vida sexual, maior número de parceiros sexuais, maior frequência de orgasmo, maior frequência de atividade sexual semanal, maior frequência de ida ao ginecologista, maior conhecimento dos métodos anticoncepcionais e maior uso de contracepção. A menarca também apresentou queda significativa no decorrer das décadas, assim como maior frequência do antecedente de estupro. Notou-se também frequência cada vez maior de primigestas, com maior idade gestacional ao início do pré-natal.
Conclusão: Podemos concluir que houve grande mudança no perfil epidemiológico das gestantes adolescentes durante as últimas décadas, com atenção especial para as mudanças familiares e econômicas, com famílias mais desestruturadas e pior poder aquisitivo, assim como um nível educacional maior e maior atividade laboral. Destaca-se também a atividade sexual cada vez desenvolvida. Tal mudança epidemiológica deve ser considerada na elaboração de políticas públicas de saúde.