A associação entre uso de anticoncepção hormonal e câncer de mama é conhecida há vários anos e diversos estudos mostram pequeno aumento do risco relativo de câncer de mama durante o uso de anticoncepção hormonal (pouco impacto em números absolutos).
Estudo recentemente publicado no New England Jornal of Medicine, revelando que o risco de câncer de mama é maior para as usuárias de anticoncepcionais hormonais em relação àquelas que nunca recorreram a este método, trouxe esta discussão novamente à tona.
A Sociedade Brasileira de Mastologia, a FEBRASGO, a SOGIA-BR e o próprio estudo publicado não recomendam, no entanto, que mulheres interrompam o uso dos anticoncepcionais. As pílulas levam a uma drástica redução de gestações não planejadas, e particularmente no grupo de adolescentes e adultas jovens, onde o impacto de uma gravidez pode ser catastrófico do ponto de vista pessoal, social, educacional e em saúde pública. Além disso, anticoncepção hormonal diminui o risco de câncer de ovário, câncer de endométrio e do câncer colorretal, além do impacto no tratamento de alterações hormonais e cosmetológicas, na abordagem de osteoporose e do sangramento uterino anormal.
Deve ser lembrado o viés de seguimento, onde mulheres que usam anticoncepcionais são mais bem acompanhadas em relação as que não usam e, devido a isso, talvez quando a avaliação de mortalidade por câncer for analisada, o risco de morte por esta doença possa ser até menor.
Baseado neste estudo e em estudos prévios sobre a relação entre o uso de anticoncepcionais hormonais e o câncer de mama, a SOGIA-BR sugere que cada usuária avalie ou discuta com o seu médico sobre a relação risco-benefício desta decisão. Isso porque o aumento de risco é pequeno e relativo, dependendo da idade e do tempo de uso, segundo este estudo. Comparando-se os impactos negativos de uma gravidez na adolescência podemos ter os benefícios superando os riscos.
Os benefícios destes hormônios são claros há anos, particularmente nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Aqui, uma em cada cinco crianças é filha de meninas entre 10 e 19 anos, sendo que quase 60% destas mães jovens não mais estudarão e/ou trabalharão. A anticoncepção hormonal é arma fundamental para transformar esta realidade.
Nossa orientação como Sociedade Médica é a individualização dos casos e a discussão de cada jovem com seu médico. A boa história, que envolve uma conversa esclarecedora, continua sendo fundamental antes da indicação do uso de hormônios, sempre considerando os benefícios importantes conhecidos da anticoncepção hormonal.
Diretoria executiva da SOGIA-BR.
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